- Imagem: Mandala Compaixão by Ellen Allmye -
A TERAPIA CHAMADA COMPAIXÃO
Osho
Uma vez ouvi você dizer “Só a compaixão é terapêutica”. Por favor, fale sobre a compaixão
Sim, só a compaixão é terapêutica – porque tudo que é ruim no homem é
devido à falta de amor. Tudo que é errado no homem está em algum lugar
associado com o amor. Ele não tem sido capaz de amar, ou não tem sido
capaz de receber amor. Ele não tem sido capaz de compartilhar seu ser.
Essa é a miséria. Isso cria todo tipo de complexos por dentro.
Esses ferimentos íntimos podem vir à tona de muitas maneiras: podem se
tornar doenças físicas, podem se tornar doenças mentais – mas
profundamente o homem sofre de falta de amor. Assim como a comida é
necessária para o corpo, amor é necessário para a alma. O corpo não pode
sobreviver sem comida, e a alma não pode sobreviver sem amor. Na
verdade, sem amor a alma sequer nasceu – não existe a questão de sua
sobrevivência.
Você simplesmente pensa que tem uma alma; você
acredita que tem uma alma devido ao seu medo da morte. Porém, você não
sabe a não ser que você tenha amado. Só no amor a pessoa vem a sentir
que é mais do que o corpo, mais do que a mente.
É por isso que
digo que a compaixão é terapêutica.
O que é compaixão?
Compaixão é a forma
mais pura de amor. Sexo é a forma mais baixa do amor, compaixão é a
forma mais elevada do amor. No sexo, o contato é basicamente físico; na
compaixão o contato é basicamente espiritual. No amor, compaixão e sexo
estão misturados, o físico e o espiritual estão misturados. Amor é o
meio caminho entre sexo e compaixão.
Você também pode chamar a
compaixão de oração. Você também pode chamar a compaixão de meditação. A
mais alta forma de energia é compaixão. A palavra compaixão é bela:
metade dela é paixão - de algum modo paixão tornou-se tão refinada que
não é mais como uma paixão. Ela tornou-se compaixão.
No sexo,
você usa o outro, você reduz o outro a um meio, você reduz o outro a uma
coisa. Eis porque num relacionamento sexual você se sente culpado. Essa
culpa não tem nada a ver com ensinamentos religiosos; essa culpa é mais
profunda do que os ensinamentos religiosos. Num relacionamento sexual
como tal você se sente culpado. Sente-se culpado porque você está
reduzindo um ser humano a uma coisa, a um produto a ser usado e jogado
fora.
É por isso que no sexo você também sente uma espécie de
servidão; você também está sendo reduzido a uma coisa. E quando você é
uma coisa sua liberdade desaparece porque sua liberdade só existe quando
você é uma pessoa. Quanto mais você for uma pessoa, mais livre você é,
quanto mais uma coisa você for, menos livre você é. A mobília do seu
quarto não é livre. Se você deixar o quarto trancado e voltar após
muitos anos, a mobília estará no mesmo lugar, da mesma maneira; ela não
irá se arrumar de uma nova maneira. Ela não tem nenhuma liberdade.
Contudo se você deixar um homem no quarto, você não irá encontrá-lo do
mesmo jeito – nem mesmo no outro dia, nem mesmo no próximo momento. Você
não pode encontrar o mesmo homem novamente.
O velho Heráclito
diz: Você não pode pisar no mesmo rio duas vezes. Você não pode
encontrar o mesmo homem novamente. É impossível encontrar o mesmo homem
duas vezes, porque o homem é um rio, continuamente fluindo. Você nunca
sabe o que vai acontecer. O futuro permanece aberto. Para uma coisa, o
futuro está fechado. Uma pedra permanecerá uma pedra. Ela não possui
nenhuma potencialidade para crescer. Ela não pode mudar, não pode
evoluir. Um homem nunca permanece o mesmo. Ele pode recuar, pode ir
adiante, pode ir para o inferno ou para o céu, ele, porém, nunca
permanece o mesmo. Continua se movendo, desse ou daquele jeito.
Quando você tem um relacionamento sexual com alguém, você reduziu essa
pessoa a uma coisa. E reduzindo-a você reduziu a si mesmo também a uma
coisa, porque é um compromisso mútuo que “Eu lhe permito me reduzir a
uma coisa, você me permite lhe reduzir a uma coisa. Eu lhe permito
usar-me, você me permite usá-lo. Usamos um ao outro. Nos tornamos
coisas”.
Eis porque… observe dois amantes: quando eles ainda não
estão consolidados. O romance ainda está vivo, a lua de mel ainda não
acabou e você vai ver duas pessoas pulsando com vida, prontas para
explodir – prontas para explodir no desconhecido. E então observe um
casal, o marido e a esposa, e você verá duas coisas mortas, dois
túmulos, lado a lado – ajudando um ao outro permanecer morto, forçando
um ao outro permanecer morto. Esse é o constante conflito do casamento.
Ninguém quer ser reduzido a uma coisa!
Sexo é a forma mais baixa
dessa energia “X”. Se você for religioso, chame isso de “Deus”, se você
for científico, chame-o de “X”. Essa energia, X, pode tornar-se amor.
Quando ela se torna amor, então você começa a respeitar a outra pessoa.
Sim, às vezes você usa a outra pessoa, mas você se sente grato por isso.
Você nunca diz obrigado para uma coisa. Quando você está apaixonado por
uma mulher e faz amor com ela, você diz obrigado.
Quando você
faz amor com sua esposa, você já disse alguma vez obrigado? Não, você
tem isso como certo. Alguma vez sua esposa já lhe disse obrigado?
Talvez, muitos anos atrás, você pode se lembrar algum tempo quando você
estava indeciso, estava só tentando, cortejando, seduzindo um ao outro –
talvez. Mas uma vez consolidado, ela alguma vez já lhe disse obrigado
por alguma coisa? Você já fez tantas coisas por ela, ela já fez tantas
coisas por você, ambos estão vivendo um para o outro, a gratidão porém,
desapareceu.
No amor, existe gratidão, existe uma profunda
gratidão. Você sabe que o outro não é uma coisa. Você sabe que o outro
possui uma grandeza, uma personalidade, uma alma, uma individualidade.
No amor você concede liberdade total ao outro. É claro, você dá e
recebe: é um relacionamento de dar e receber... mas com respeito.
No sexo, é um relacionamento de dar e receber sem nenhum respeito. Na
compaixão, você simplesmente dá. Não há nenhuma ideia na sua cabeça em
receber alguma coisa de volta; você simplesmente compartilha. Não que
coisa alguma venha! Isso retorna um milhão de vezes, mas isso é só dessa
maneira, só uma consequência natural. Não há nenhum anseio por isso.
No amor, se você der alguma coisa, bem lá no fundo você continua
esperando que isso deve retornar. Se isso não retornar, você fica
reclamando. Você pode não dizer isso, mas de mil e uma maneiras pode se
deduzir que você está resmungando, que você está sentindo que foi
enganado. Amor parece ser uma barganha sutil.
Na compaixão você
simplesmente dá. No amor, você fica agradecido porque o outro lhe deu
algo. Na compaixão, você fica agradecido porque o outro levou algo de
você; você está agradecido porque o outro não lhe rejeitou. Você veio
com energia para dar, você tinha vindo com muitas flores para partilhar,
e o outro lhe permitiu, o outro foi receptivo. Você é grato porque o
outro foi receptivo.
Compaixão é a forma mais elevada do amor.
Muito retorna – um milhão de vezes mais, digo – mas isso não é o mais
importante, você não anseia por isso. Se isso não vier não há nenhuma
queixa quanto a isso. Se vier você fica simplesmente surpreso! Se isso
vier, é inacreditável. Se não vier não há problemas – você nunca deu seu
coração a alguém por alguma barganha. Você simplesmente derrama porque
você tem. Você tem tanto que se você não derramar você ficará
sobrecarregado. Assim como uma nuvem carregada de água de chuva precisa
derramar. E da próxima vez quando uma nuvem estiver chovendo observe em
silêncio, e você irá sempre ouvir, quando a nuvem derramou a chuva e a
terra a absorveu, você irá sempre ouvir a nuvem dizer para a terra
“Obrigado”. A terra ajudou a descarregar a nuvem.
Quando uma flor
brota, ela precisa compartilhar sua fragrância com os ventos. É
natural! Isso não é uma barganha, não é um negócio; é simplesmente
natural! A flor está repleta de fragrância – que fazer? Se a flor
mantiver a fragrância para si mesma então a flor se sentirá muito tensa,
numa profunda angústia. A maior angústia na vida é quando você não pode
expressar, quando você não pode comunicar, quando você não pode
compartilhar. O homem mais pobre é aquele que não tem nada para
partilhar, ou tem alguma coisa para partilhar, mas perdeu a capacidade, a
arte, de como compartilhá-la; assim um homem é pobre.
O homem
sexual é muito pobre. O homem amoroso é comparativamente mais rico. O
homem compassivo é o mais rico; ele está no topo do mundo. Ele não tem
nenhum confinamento, nenhuma limitação. Ele simplesmente dá e prossegue
em seu caminho. Ele nem mesmo espera que você diga um obrigado. Com
tremendo amor ele compartilha sua energia. Isso é que chamo de
terapêutico.
Buddha costumava dizer aos seus discípulos, “Após
cada meditação, sejam compassivos – imediatamente – porque quando você
medita, o amor cresce, o coração fica repleto. Após cada meditação,
sinta compaixão pelo mundo inteiro para que você compartilhe seu amor e
você libera a energia na atmosfera e essa energia pode ser usada pelos
outros”.
Eu também gostaria de dizer isso a vocês: Após cada
meditação, quando vocês estiverem celebrando, tenham compaixão. Apenas
sinta que sua energia deve ir e ajudar as pessoas de qualquer maneira
que elas necessitem. Apenas libere-a! Você ficará descarregado, você irá
se sentir bem relaxado, irá se sentir muito calmo e quieto, e as
vibrações que você liberou ajudarão a muitos. Termine suas meditações
sempre com compaixão.
E a compaixão é incondicional. Você não
pode ter compaixão só por aqueles que são amigáveis com você, só por
aqueles que estão relacionados a você. Compaixão inclui tudo...
intrinsecamente tudo. Assim se você não pode sentir compaixão pelo seu
vizinho, então esqueça tudo sobre meditação, porque isso não tem nada a
ver com alguém em particular. Tem algo a ver com seu estado interior.
Seja a compaixão! Incondicionalmente, não direcionada, não endereçada.
Assim você se torna uma força curativa nesse mundo miserável.
Osho, A Sudden Clash of Thunder,
Fonte: Osho, Receitas para a Alma
https://www.facebook.com/groups/receitasdeosho/
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